A evolução do Tennis em 4 grips


Dê uma olhada acima no forehand de Karen Khachanov. Observe sua contorção de pulso e que sua mão está completamente sobre a parte debaixo do cabo da raquete.

Khachanov está usando uma empunhadura Western, uma mudança de quase 180 graus da empunhadura de forehand Continental usada por Rod Laver, um dos ícones do passado, que colocava a palma da mão por cima do cabo da raquete.

A evolução da empunhadura de forehand, com a palma se deslocando cada vez mais abaixo, foi amplamente incremental e provocada pela constante mudança do jogo, superfícies e equipamentos. 

Mas antes de olharmos como o tênis foi de Laver a Khachanov, é útil entender alguns fundamentos sobre os grips e seus nomes correspondentes.


O cabo é um octógono e o nome da empunhadura é determinado por qual bevel (chanfro) do octógono a articulação inferior do dedo indicador e a "almofada" da palma da mão se apoiam.

Continental


Eastern

Semi-western

Western

Parece não haver fim para as discussões sobre quais jogadores usam quais empunhaduras de forehand. E os pequenos ajustes que os jogadores fazem com as posições das mãos tornam difícil agrupá-los em determinadas empunhaduras.

Continental grip - Quando a grama reinava

Quando Laver colocou sua palma esquerda nos bevels superiores do cabo da raquete nos anos 1960 e 1970, ele estava usando a empunhadura Continental. Isso aconteceu na época em que o jogo era disputado quase que exclusivamente na grama. Era a empunhadura de forehand perfeita para a forma como o jogo era jogado: a grama produzia golpes baixos e derrapantes, e os golpes da maioria dos jogadores, com raquetes de madeira, produziam pouco spin (giro).

Era um jogo de saque e voleio. Quando os jogadores não estavam trocando golpes na altura do joelho, eles iam para a rede para evitar o quique pouco confiável da grama e para distanciar seus oponentes com voleios de ângulo agudo. 

Eram necessários minimos ajustes de empunhadura para acertar praticamente qualquer tiro que viesse em sua direção. Dentre os varios jogadores que utilizavam a empunhadura continental podemos destacar: Rod Laver, Guillermo Vilas, John McEnroe, Billie Jean King e Margareth Court.

John McEnroe

Rod Laver

Até meados da década de 1970, três dos quatro grandes torneios eram disputados na grama, de modo que a empunhadura Continental teve uma longa vida como a empunhadura de forehand preferida dos jogadores.

A popularidade dessa empunhadura ultraconservadora começou a declinar na década de 1970, mas persistiu nos anos 80 e 90 com jogadores como John McEnroe, Martina Navratilova e Stefan Edberg. Hoje em dia essa empunhadura é utilizada pelos jogadores para golpes como saques, smashs, voleios e drop shots (curtinhas).

Como empunhadura de forehand a continental não é adequada para o atual jogo de alta velocidade, spin e quique alto.

Eastern grip - Borg inicia a revolução

Assista Roger Federer bater um forehand na altura do quadril, e você verá uma empunhadura eastern, embora não tão clássica quanto a de Pete Sampras.

Pete era um verdadeiro "3.3", já que colocava tanto a articulação do dedo indicador como a almofada da palma da mão no bevel 3. Federer coloca sua articulação do dedo indicador um pouco mais em direção ao bevel 4. 

Para ser mais preciso, a empunhadura de Federer é como uma ponte. Pouquissimas pessoas sabem mas é chamada por especialistas como "hybrid grip" (exatamente entre eastern e semi-western). Parece familiar para aqueles que usaram o eastern nos anos 70 e 80, mas está um pouco mais sentido semi-western, o suficiente para se sentir em casa no jogo de hoje. 

Entre os jogadores adeptos dessa empunhadura podemos destacar Pete Sampras, Roger Federer, Del Potro, Steff Graff e Bjorn Borg. 

Roger Federer

Pete Sampras

Embora Bill Tilden seja creditado como o inventor da empunhadura eastern na década de 1920, foi Bjorn Borg ainda nos anos 70 quem provou que essa empunhadura era um divisor de águas. Borg deslizou a mão da continental para eastern e uma revolução no tênis começou.

Ele começou a dar muito mais topspin na bola do que qualquer outro jogador, acertando golpes cada vez mais fortes e que caiam dentro da linha de base do oponente. Borg introduziu a ideia de que um jogador pode vencer jogando quase que exclusivamente do fundo da quadra, com golpes fortes e com muito spin (algo comum no jogo de hoje).

Borg usava a empunhadura eastern e um swing debaixo para cima para criar topspin

Na época muitos acreditavam que Borg estava usando uma empunhadura ainda mais severa, como o Semi-Western e as discussões ainda acontecem nos foruns de tennis. Na realidade, Borg uniu a empunhadura eastern com o "follow through" (seguimento do golpe) para cima para criar muito topspin.

Semi-western grip - Topspin ganha os tempos

A atual geração de jogadores tem usado a moderna tecnologia de raquetes e cordas desde a juventude. A busca por mais potência e spin está no DNA. O que antes era uma lenta evolução das empunhaduras tornou-se uma corrida em direção à parte de baixo do cabo da raquete. 

O forehand semi-western de Serena Williams

A empunhadura semi-western move a mão outro bevel no sentido horário a partir da eastern (ou anti-horário para canhotos). Quanto mais por baixo esteja a mão no cabo da raquete, mais a mão e o braço trabalham juntos naturalmente para criar o arco do swing que era tão evidente com o Borg. Esse arco, comumente conhecido como “windshield wiper” (limpador de parabrisas) ou apenas wiper, junto com a empunhadura Semi-Western cria um tremendo topspin.

Enquanto Federer cria cerca de 2.500 rpm de topspin com sua empunhadura eastern modificada (hybrid), a severa Semi-Western de Nadal (quase western) cria quase 4.000 rpm.

O Semi-Western é bem adequado para golpes na altura do ombro, comuns hoje, permitindo ao jogador levantar mais facilmente a raquete e passar por cima da bola no contato para dar o giro. O ponto de contato precisa estar mais na frente dos jogadores e isso força os jogadores a ficarem atrás da linha de base para terem tempo de reação suficiente.

O que a continental foi para Laver e gerações antes dele, a semi-western é para os jogadores de hoje. De Serena Williams a Novak Djokovic, a empunhadura semi-western e suas variações sutis atingiram o ponto ideal no cabo da raquete que corresponde às demandas do jogo de hoje.

Western grip - A empunhadura chega ao extremo

Voltamos ao inicio da postagem, no forehand de Khachanov, atual numero 20 do mundo (melhor ranking 8). O russo de 24 anos usou seu grande saque e o poderoso western forehand para chegar às quartas de final do Aberto da França 2019 e vencer Djokovic no Masters de Paris 2018.

Khachanov está entre jogadores atuais que usam a empunhadura western, colocando a palma da mão embaixo do cabo da raquete, criando golpes com ainda mais topspin e com imensa força. 

Entre os principais jogadores que utilizam essa empunhadura podemos destacar Jack Sock, Frances Tiafoe, Kyle Edmund, Kei Nishikori e Thomaz Bellucci. 

Há quem diga que Jim Courrier, ex numero 1 do mundo nos anos 90 e ganhador de 4 grand Slams, foi quem abriu as portas para a popularização do uso dessa empunhadura. De fato Jim Courrier utilizava a empunhadura western com um jogo extremamemte agressivo.

Jack Sock

Frances Tiafoe

E a medida que o topspin é incrementado, também aumenta a altura dos quiques e peso nos golpes, tornando esta empunhadura não apenas uma opção mas sim a causa desse incremento. 

Os jogadores estão constantemente mudando sua empunhadura de forehand para utilização de diversos outros golpes como backhand, um voleio ou até rebater uma bola na altura do tornozelo. Há quem diga que o que podem ser micro-ajustes em uma empunhadura eastern ou semi-western tornam-se ajustes bem maiores na western, mas a verdade é que girando a empunhadura no sentido horário a western encontra-se logo ao lado da continental, tornando simples e rápida a mudança para um backhand ou jogadas de rede. Outro fato interessante é que a própria empunhadura western pode servir como eastern de backhand, sendo possível assim utilizar uma "empunhadura unica" para golpes do fundo de quadra.

Conclusão

As empunhaduras opostas de Laver e Khachanov mostram as constantes mudanças do tênis. Não está claro se este é o fim da linha para as mudanças de empunhadura, mas pode-se dizer que a empunhadura de forehand já completou um giro de praticamente 180 graus no cabo da raquete.

Qual empunhadura você usa ? Deixe sua resposta nos comentários. Bom jogo a todos !

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